Participei da Antologia Esperança em tempos de pandemia 2, publicada em 18 de julho de 2021 pela Editora Proverbo, com foco na esperança em novo tempo em razão da pandemia do Covid-19. O texto que apresentei nessa coletânea se chama Eu sou o bicho papão (p. 78 a 80), cujo texto segue abaixo, na íntegra. O lançamento dessa coletânea se deu via Youtube. Veja a minha participação entre podendo ser vista entre 1:41:45 minutos e 1:48:52 minutos do vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=pjP4r7s8HvM
Contextualização
Esse texto foi escrito quando voltei da Itália, em março de 2020, no auge da pandemia naquele país. Retornei em um dos últimos voos desse período e precisei de muita coragem para cruzar a Itália de trem para poder ir a Roma e pegar o voo para São Paulo. Fiquei de quarentena assim que cheguei e mantive esse diálogo com a minha neta, depois de 6 meses sem vê-la. Escrevi esse texto para fazer com que as crianças saíssem do clima de horror em que se encontravam para poder ter uma atitude proativa e de algum controle sobre a situação.
Eu sou o bicho papão
– Oi vovó, estou com muitas saudades de você.
– Eu também estou com muitas saudades de você.
– Vovó, você está sozinha?
– Sim, estou de quarentena. Você sabe o que é isso? É quando uma pessoa precisa ficar um tempo sozinha para não contaminar a outra pessoa, caso ela esteja doente.
– Mas você está doente?
– Não. A vovó está bem.
– Já sei. É para ver se você tem alguma coisa, não é isso?
– Sim, menina sabida. É isso mesmo.
– Vovó, eu estou cansada de ficar em casa. Não dá para fazer nada. Não posso descer para brincar no parquinho do condomínio, não posso encontrar os meus amigos e não posso te abraçar. Tudo isso está ficando muito chato.
– Vou te contar um segredo. A vovó descobriu uma coisa.
– Oba, adoro segredos. O que foi que a vovó descobriu?
– Descobri que o coronavírus é muito bobo.
– Como assim?
– Ele tem medo, sabe do quê?
– Do quê?
– De sabão. Veja como ele é fraco. É só limpar tudo com sabão que ele sai correndo. Tem gente que tem medo do bicho papão, do lobo mal e de não sei mais o quê, mas o coronavírus tem medo de sabão. Nem acreditei quando soube disso.
– Mas isso é verdade?
– Sim, quando você aparece com sabão e passa no lugar onde ele está, você acredita que ele explode e morre?
-Nossa vovó, nunca pensei que ele fosse tão fraco.
– Pois é. Se ele perceber que você está usando sabão, ele fica nervoso e pensa o seguinte: “Aquela menininha quer me matar. Tenho muito medo dela. Vou sair correndo daqui. Ela é pior do que o bicho papão”.
– Já sei vovó: ao invés de ficar com medo dele, estou entendendo que é ele quem deve ter medo de mim.
– Isso mesmo. Quando o papai ou a mamãe, ou qualquer outra pessoa, chegarem da rua, você fica de olho neles para ver se lavam bem as mãos, se tiram os sapatos na entrada da sala. Outra coisa importante, é não colocar as mãos no rosto: nos olhos, no nariz e na boca, pois se o coronavírus entrar no seu corpo, você pode ficar doente. Você e todas as pessoas devem estar sempre com as mãozinhas lavadas com sabão.
– Acabei de lavar as minhas mãos. É verdade vovó, vou fazer tudo isso, pois parece que não é tão difícil dar um susto nesse coronavírus malvado. Pensando bem, eu sou uma heroína na luta contra o mal. Não vou deixar meu irmãozinho ficar doente pois, além de limpar as mãozinhas dele, eu não vou mais colocar as minhas mãos no seu rostinho, e nem no meu. Vovó já entendi tudo. Vou avisar os meus amigos para se cuidarem e ajudarem a cuidar da família, porque eu vi que, mesmo sendo uma criança pequena, posso fazer muita coisa para esse vírus chato sair correndo de perto de mim. A gente se encontra quando acabar essa confusão e vou te dar muitos beijinhos. Se cuida vovó.
Written by : mariagravina
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Donec fringilla nunc eu turpis dignissim, at euismod sapien tincidunt.